quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

por Matheus Morais


Em tempos de... Pequenas notas

· Em tempos de heróis, que venha Barack Obama, barracas de brahmas, ou que seja um frezeer cheio de brahmas, ou ainda, uma “freeza” cheia das latinhas de Zeca Pagodinho...

· Em tempos de pós - eleição (Brasileiras e Americanas), teremos que engolir João Henrique e sua cara amassada de anteontem de tarde... Continuam em alta: o cantinho do choro, no Palácio Thomé de Souza, o catatau de remédios caixa preta e a infidelidade, Salve Geddel Vieira Lima...

· Em tempos de crise econômica, fica cada vez mais difícil prestar atenção no Jornal Nacional, que está a cada dia mais chato... Perdeu a validade a fórmula casal feliz, trigêmeos lindos e conta bancária de R$ 500 mil mensais...

· Em tempos de chatices soteropolitanas, dá gosto ver a Avenida Centenário: O parquinho infantil de Geddel, a pista de Cooper de Geddel (que ele mesmo deveria usar para perder metade da barriga), a iluminação de Geddel, e o princípio da era Geddel...

· Em tempos de apresentadores-radialistas-babacas azarões, é de lamber os beiços ver Raimundo Varela derrotado nas eleições municipais. Apoiou ACM, o Neto, perdeu, apoiou Pinheiro, o desacreditado, perdeu... Vá ser azarado assim lá no bingo da Igreja do Politeama...

· Em tempos de novelas globais meia-boca, é praticamente chegar ao orgasmo assistir Maisa (a boneca falante do SBT), fazendo dupla com o patrão Silvio Santos... Pode até ser armado, mas que é engraçado, ninguém pode negar...

· Em tempos de cegonhas esquizofrênicas na cozinha da axé music, soou muito estranha a gravidez de Ivete Sangalo... Primeiro a moça vai ao programa de Faustão e diz que quer emprenhar ainda nesse ano, depois anuncia a gravidez, logo em seguida lança um cd horrível só com músicas infantis, feito com Saulo Fernandes... E por fim, perde o bebê!

· Muitíssimo mal contando, explicado e cantado. Aliás, o cd infantil é realmente muito fraco, tem um tal de funk do xixi, que só urinando em cima mesmo! Como bem escreveu Hagamenon Brito, parece imitação barata do excelente disco Adriana Partimpim, da inoxidável Adriana Calcanhotto. Colocando os fatos em pratos limpos, Ivete não é Adriana, está muito longe disso, e Saulo continua (como falamos aqui em Salvador), na boquinha... Se promovendo às custas de Ivete... É réveillon no Espanhol, cd para crianças, daqui a pouco vai até residir na Morada dos Cardeais, só para filar a merenda de três horas. E ainda temos que agüentar VEVETA E SAULINHO!

· Em tempos de quebra pau, é ótimo ver Luana Piovani na praia, de biquíni, apanhando na boate, batendo boca com Dado Dolabela, é lindo vê-la nervosa, chorando, sofrendo... É linda Luana, ou como diria Caetano, “Luana é linda”...

· Em tempos de perdas dos valores morais, a “instituição família” continua em baixa... Porém, algo me deixa intrigado: Deve ser horrível fazer parte da família de Gretchen! A irmã Sula Miranda tem o título de “Rainha dos Caminhoneiros”, a própria Gretchen é intitulada a “Rainha do Bumbum”, a filha Tammy se transformou num homem com “H” maiúsculo... Imagine a ceia de natal dessa “tchurma”...

· Em tempos de piadas prontas, é cada vez mais intrigante desvendar a mente dos eleitores brasileiros: Primeiro Collor, depois Maluf, Clodovil, Frank Aguiar (que se elegeu para vice-prefeito de São Bernardo do Campo), agora Rosinha Garotinho prefeita de Campos, no Rio de Janeiro... LAMENTÁVEL

· Em tempos de urnas abertas... a coisa vai ficar feia nas eleições presidenciais de 2010... Se Dilma Roussef for mesmo a candidata do PT, e Geddel Vieira Lima seu vice, vão ter que usar muito Photoshop nos Banners, folders e santinhos... Quem quiser que fuja das encruzilhadas de meia noite...

· Ainda ficou um resto de veneno guardado! Mas, enquanto houver Word, PC, e imaginação, posso voltar a qualquer momento... Afinal, vejo tudo com esses olhos que a terra não há de comer, porque sou doador! Até breve...






ilustração: Leandro Estevam

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

por Matheus Morais


Cotidiano, indignação e muitas verdades.

Ando indignado com a rotina do Brasil. Não que a rotina macabra de mortes, assassinatos, seqüestros, suicídios e afins, seja novidade em nossas vidas, mas que cansa, cansa! E eu estou cansado...

A desgraça parece andar de mãos dadas com a vida dos cidadãos, que não se indignam, fazem meia dúzia de protestos chinfrins e pronto, acabou, ninguém se mobiliza de verdade, abaixamos a cabeça em nome do medo.

Não quero mais ligar a televisão e ver a cara de boneca da Fátima Bernardes dando notícias ruins, não quero ver o rosto sinistro de William Bonner noticiando mais uma chacina, e muito menos Carlos Nascimento, fazendo uma expressão indignada (que não convence nem minha avó), acerca de alguma morte. Cansei...

Por que não descobrem logo a cura da Aids, a solução para o câncer, ou um bem para o mal de Alzheimer? Por que não inventam notícias bacanas, lascam os jornais de ontem e fazem um novinho em folha (não a de São Paulo)? Queria mesmo ir embora para a Maracangalha de Caymmi, com Anália ou sem ela...

Lá eu poderia chorar em paz a morte do mestre, lá poderia sentir sua falta, de verdade! Parem e pensem, quantas perdas importantes sofremos esse ano? Vou refrescar a memória dos menos favorecidos: Dorival Caymmi, Zélia Gattai, Jamelão, Dercy Gonçalves... Chega, não dá mais...

E a Brasília de JK não existe mais, acabou, findou-se. A capital federal virou sinônimo de maracutaia, grampo, mensalão, mensalinho, CPI. Afinal, nossos honrados deputados, senadores, ministros e presidente, o que fazem por lá? Ah, também quero mamar nas tetas do governo, porque eles só roubam nosso dinheiro com impostos mambembes, com taxas descaradas e deslavadas.

Dêem-me um cargo no governo federal, lá só se trabalha um turno e se ganha bem pra caramba... Imploro, quero um cargo em Brasília, quero viajar de primeira classe, comer caviar, arrotar camarão, tomar champagne e uísque doze anos (ou bala doze, como falamos no baixo clero), quero charuto cubano e ler na primeira página que o gagá do João Durval completou seu mandato de senador da república com 100 por cento de ausência... Ah, quero ver o mar pegar fogo para comer peixe frito.

Não quero mais ligar a televisão e ver o choro incontido de Diego Hyppólito, tampouco ouvi-lo berrando que “não sou amarelão”. .Amarelões são os governantes hipócritas que não incentivam o esporte, a iniciativa privada que só apóia o Criança Esperança, e esquece dos atletas, é desses canalhas que estou de saco cheio.

De um idiota chamado Carlos Arthur Nuzmann (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro), que teve a coragem de colocar a cara na televisão para informar que “O Brasil obteve seu melhor desempenho na Olimpíada de Pequim”. É desrespeito com o público, com a mídia e com os atletas, atestar uma mentira dessas...

Pobre de quem ficou até 4h da manhã para ver os mal fadados esportistas brasileiros atuando, em quase sua totalidade um show de horror, espetáculo de quinta, sem esquecer o pífio desempenho das meninas do basquete.

Mas aplaudam Mauren Maggi, César Ciello, Robert Scheidt , as meninas do vôlei feminino, do vôlei de praia, do judô... Aplaudam sim, esses merecem! Tirem o chapéu também para Londres 2012, e esqueçam, ESQUEÇAM 2016, principalmente se a olimpíada acontecer no Brasil.

E só por aqui colocam um cidadão que nunca foi técnico para treinar a Seleção Brasileira de Futebol. È, não poderia se esperar nada melhor em se tratando de Ricardo Teixeira, o genro preferido do papudo João Havelange.

Façam melhor, parem, parem o mundo que eu quero descer, ou então, me internem logo num hospício, a camisa de força me cairá bem!




ILUSTRAÇÃO: Cau Gomez

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

por Matheus Morais

Sobre Pseudos, Leigos e Verdades


Não sei nada de arte, muito menos da alma de artistas, quando o assunto é fotografia eu sou um zero a esquerda, comigo é só apertar o botão e pronto, click, acabou! Deveria sentir vergonha, afinal, sou um jornalista recém formado, tive aulas de Fotojornalismo, mas não adiantou quase nada, eu gosto mesmo é das fotos tiradas por outras pessoas, e o pior, não sei fotografar! Paciência!

Como nem tudo é perfeito, sei apreciar boas fotos. Gosto de Verger, Sebastião Salgado, Pedro Martinelli, Zélia Gattai (sim, ela era uma boa fotógrafa). Não sou assíduo freqüentador de exposições fotográficas e nem tenho saco para os que fazem questão de olhar as ditas fotos com cara de intelectual e um ar soberbo de “To entendendo tudo”... Abomino!

Porém, contrariando minha rotina e também minha pseudo – intelectualidade fui à exposição A gosto da Fotografia, que começou semana passada, na galeria do Acbeu, no Corredor da Vitória. Surpreendi-me com as cores, com as mensagens, com a beleza das fotos expostas, me surpreendi por ter entendido tanta coisa. Ora, entendi do meu jeito, da maneira que quis, e daí?

O que alguns intelectualóides de meia tigela precisam entender é que a arte é livre, e abre espaço para interpretações diversas. Não fiz cara de intelectual, muito menos de entendedor, fiz cara de quem tava entendendo, do meu jeito!

O carnaval calado de Pablo Di Giulio me encantou. As cores, os olhos fechados e as mãos espalmadas transportam para um universo particular, um contra senso, afinal carnaval é cor, imagem, alas, fantasias, música alta... Porém, Di Giulio faz sua própria festa com personagens escolhidos a dedo, com um silêncio que transporta para algum lugar que ainda não se sabe onde, e que também não precisa se saber. O verde e rosa da Estação Primeira de Mangueira em uma das fotos me deixou extasiado, o samba agradece!

Ou como mesmo disse Di Giulio, na matéria escrita pela indefectível Flavia Vasconcelos. "Se escondendo (de olhos fechados) elas se mostram", define o artista. Para o fotógrafo, os olhos fechados permitiram transportá-las para outro universo e se conectarem ao seu interior. As vivências e o futuro de cada uma, são revelados nas linhas das mãos abertas, uma marca individual. A identidade pessoal que tanto ele buscava registrar.

Di Giulio pode não saber, mas ele me fez voltar revigorado para casa, numa terça feira que tinha tudo para ser morna e rotineira. Ah, só me soa estranho a denominação curador da exposição, aos meus ouvidos parece tratar-se de curandeiro, esses homens que mexem com ervas para curar alguns males... Com toda certeza, maluquices de um leigo!

terça-feira, 13 de maio de 2008

por matheus morais


Televisão, dengue e falta de criatividade


A verdade é que sempre fui muito ligado à televisão. As cores me fascinavam, mesmo porque tive a sorte de conhecer a TV colorida, com seu mundo particular, suas cores encantadoras... A televisão preta e branca que ficava num canto qualquer da cozinha em nada chamava a minha atenção, em nada despertava minha curiosidade. Não tinha o mesmo brilho que me encantava, os movimentos pareciam se arrastar, era diferente, indescritível... sensação diferente da que a empregada lá de casa sentia: a TV ficava em cima de uma mesa, decorada com uma toalha bordada e um vaso de flores, definitivamente eram sentimentos distintos

Desde pequeno ouvia o plim-plim da Globo, a vinheta do Chaves ou a abertura do Jornal Nacional e me envolvia de um jeito único, particular demais para as outras pessoas entenderem. Corria, dialogava com a tela, com os personagens da novela das oito, ria com os personagens de Chico Anysio e era feliz. Sim, feliz vendo televisão, e não deixava de jogar gude, soltar pipa ou jogar Jogo da Vida, War, Banco Imobiliário...

A TV também foi durante muito tempo uma rede de relacionamentos para mim... Calma, eu explico; comecei a conhecer pessoas novas, rostos diferentes e lugares distintos, “ouça alto, enxergue colorido”, o volume sempre no máximo! Inglaterra, França, Estados Unidos, Ceará, Piauí e Pernambuco, extremos e opostos sempre se confundiram dentro da telinha, criando em minha mente um mundo encantado!

Vi Tarcísio, Glória, Tony, Cuoco, Lima Duarte e Sinhozinho Malta, Regina Duarte e a impagável Viúva Porcina. Novelas sempre fizeram parte da minha rotina, os vilões e os mocinhos, dos choros incontidos aos risos rasgados, Beto Rockfeller, Laurinha Figueroa, Memorial de Maria Moura...

Os auditórios também sorriram com Chacrinha, Silvio Santos gritando “Roqueeeeee” e sempre pedindo uma ajuda a Lombardi, gogó de ouro do patrão... E assim foram as tardes de sábado com Raul Gil, Bolinha e suas sensuais assistentes e as noites intermináveis de Fausto Silva, com o saudoso Perdidos na Noite.

Hoje a televisão me entedia, dá náuseas, causa desconforto. É um tal de deitar e zappear de lá para cá, de ouvir baboseiras, cansaço físico e emocional. Prefiro ler, e não sou um ativista de campanhas que pedem para desligar a TV e estimulam a leitura. Cada um tem livre arbítrio para escolher o que quer fazer...

Na falta do que escrever, era isso mesmo; em tempos de dengue e epidemias, consegui sair ileso, pelo menos por enquanto!



ilustração: Leandro Estevam

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

por leandro estevam

De Segunda à Sexta

ou

Às Vezes a Fome Sacia Mais do que a Barriga Cheia


“Rotina é como ferrugem”

-- Gabriel Garcia Márquez, em Amor nos Tempos de Cólera



- Entre 9:30 e 10h – Acordar

- Café da manhã

- sentar e fazer algo desinteressante no computador

11h40 – me arrumar pra ir trabalhar

- almoço

- 12h25 -- caminhar até o ponto de ônibus

- 12h40 – pegar o ônibus de 12h40

- sentar do lado esquerdo (com vista para orla), ligar o MP3 e ouvir durante o trajeto

- 2h – chego ao destino, caminho até o trabalho

- 2h05 -- sentar na frente do computador e começar a trabalhar

- Entre 2h50 e 5hrs = 3 cafés, trabalho e conversa

- 6h – fim do dia de trabalho, hora de andar até o ponto e esperar o ônibus de 6h30 com meu irmão

- 6h30 às 8 – trajeto do ônibus (o MP3 é novamente ligado)

- 8h10 – chego em casa e sou recepcionado por Frida, minha cadela

- tomo banho, janto, assisto algo na TV, ligo pra Manu (ou ela me liga) fotografo ou vejo um filme

- a partir de 12h30 – sono profundo

Rotina. Conhece? Bom ou mau? Inferno ou céu? Escolho o meio, nem um nem outro. Nessa relação de amor e ódio com a repetição forçada se aprende muito. Descobri em mim bons e maus hábitos, coisas que me irritam, me alegram, etc, ou seja:

ROTINA = AUTO - CONHECIMENTO

Talvez devesse ser receitado como um método de terapia observem a que constatações cheguei:

1° CONSTATAÇÃO______ Me descobri um metódico de carteirinha. Algo que um teste psicológico já havia constatado e eu teimava em não aceitar. È fato! Sou sim, crio métodos pras coisas mais simples como, por exemplo, colocar o jogo americano na mesa, depois o prato, ligar a televisão e ajeitar a cadeira no mesmo e exato ponto onde consigo avistar a televisão.

2° CONSTATAÇÃO _______ Amo ouvir música e olhar o mar ao mesmo tempo. Eu MP3, o mar e ônibus em movimento, temos nos tornado grandes amigos. Entro em transe, saio de mim, percorro o universo do autor da melodia, tenho idéias, cantarolo, analiso o vendedor ambulante que sobe vendendo os “deliciosos amendoins Mendorato Santa Helena” ou o “chiclete Happy Dent, único com certificado do conselho Nacional de Odontologia” ou coisa parecida, quase entendo o que turistas alemães estão conversando e por ai vai....

3° CONSTATAÇÃO _______ Posso me acostumar, e viver muito bem com a rotina. Nada melhor do que a segurança, nada como trabalhar de segunda à sexta e no final do mês receber o salário. Afinal quem não gosta de segurança? Estou com planos sérios de abandonar essa vida incerta de artista. Quero criar uma família, um bigode e assumir o funcionalismo público de vez, com direito a Festa de Final de Ano da empresa, INSS e Plano de Previdência Privada.

4° CONTATAÇÃO _______ Estou aprendendo a não me prender a rotina. Viver a rotina, constatar a sua presença e fugir dela de vez em quando ainda é o melhor remédio. Sair mais cedo do trabalho ou até mesmo não ir a ele, assistir um bom filme no final de um dia de trabalho na companhia de bons amigos. Procurar beleza no ‘simpático’, confundir o explicado, acelerar o lento, dançar sem música, rir de velhas piadas, comer a mesma comida com outro tempero, escrever um texto pro blog novo, beijar a mesma boca e, ainda assim nova boca.

5° CONSTATAÇÃO _______ Nada melhor do que o fim-de-semana pra nos salvar da inércia da rotina.

6° CONSTATAÇÃO _______ Se não houvesse rotina provavelmente eu também estaria inconformado. Às vezes a fome sacia mais do que a barriga cheia. E vice-versa.

Como dizia Tom Zé, “Na vida quem perde o telhado ganha em troca as estrelas”



Ahhhhh...Já ia me esquecendo da 7° CONSTATAÇÃO _______ Pra que raios eu descrevi minha rotina e ainda escrevi um texto sobre isso, se numa hora dessas está todo mundo assistindo ao dia-a-dia dos moradores da casa do Big Brother 8( que creio eu deve ter algo de mais interessante do que a minha e a sua vida pra ser televisionada e as nossas não)?



Para ser lido ao som de “Ouro de Tolo” de Raul Seixas ou “Janela” de O Círculo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

por matheus morais

A dor de uma perda









Não gostaria de começar escrevendo um texto triste para nosso novo blog, mas a circunstancias me obrigam, os sentimentos também. Foi com lágrimas nos olhos que ouvi a notícia da morte da esposa, filha e genro do ícone do samba baiano, Riachão, em um acidente automobilístico, no Rio de Janeiro.

Engraçado, dia desses estava voltando para casa e encontrei com o “baixinho”, daquele mesmo jeito, no ponto de ônibus, certamente esperando a condução para o Garcia. Uma toalhinha pendurada no pescoço, mochila nas costas e o velho sorriso no rosto, marcado pelo tempo. Aquele homem me pareceu tão feliz, em paz consigo e com as coisas da vida, assim como eu, estava voltando para casa. Entre um aceno e outro, a noite protegia o “negro gato”.
Certamente uma casa cheia, humilde, mas lotada de carinho, amor e inspiração. Como imaginar um homem de 86 anos, forte, lúcido e consciente, porém sem uma parte de si, sem uma parte de sua família? “Eles se foram, mas eu estou bem, estou com Deus”, disse o mestre, segurando a alça do caixão da esposa.

Dalvinha (apelido carinhoso dado por ele), sempre foi uma inspiração e presença constante nos sambas do mestre. Um dia distante da amada já era o suficiente para entristecer Titino (apelido carinhoso dado por ela), e assim se passaram 40 anos de convivência, entre as plantas no fundo da casa, os sambas cantarolados nos finais de tarde ou nos papos na frente de casa. E agora, como fica Riachão sem sua Dalvinha?

Não, não tenho nenhum tipo de contato com Riachão, não o conheço pessoalmente, muito menos conhecia sua esposa ou sua filha. Conheço sim a obra, os sambas e um pouco da história de Clementino Rodrigues, nome de batismo do sambista. E o que importa se o conheço ou não? Acho mesmo é que está faltando um pouco de solidariedade nas pessoas, escrevo essas linhas para ser solidário, leiam ou não.

Assim como o cigarro ou a bebida, as pessoas também viciam, causam dependência... Calculem a perda de uma mulher, filha e genro, calculem perder boa parte de sua família de uma só vez, calculem um “baque” desses num homem octogenário.
Agora Riachão voltará para casa, uma casa mais vazia, com ecos de saudade, com a mesma saudade encalacrada no peito, pronta para ser descrita num samba. Triste para quem se foi e para quem ficou, a vida continua aprontando das suas...

Cantou na hora do último adeus, um choro incontrolável, carregado de soluços não combinaria com alguém tão elegante, ele não chorou. Despediu-se cantando e ainda conseguiu agradecer aos presentes... Admirável Riachão, mereceu aplausos até num momento triste!

É, o certo é que Seu Clementino nunca mais cantará aquele samba da mesma maneira: “Ela quer me ver bem mal, vá morar com o diabo que é imortal”. A Bahia ficou mais triste por Riachão! “Lembro de minha Dalvinha, a gente vivia a cantar”, lamentou. Lamentamos!
O “negro gato” continuará, entre um telhado e outro, miando, cantando. Afinal, gato tem sete vidas, a partir de agora, vidas mais tristes, é bem verdade, mas sete vidas!



Discografia

Samba da Bahia (Phillips-1973) com Batatinha e Panela

Sonho de Malandro (Tapecar-1981)

Riachão (Caravelas-2001)

Saiba mais sobre Riachão em: www.samba-choro.com.br/artistas/riachao

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008



Tudo na vida acaba; casamento, sociedade, salário, paciência... A exemplificação é só para dizer de forma simples e direta que o AO CUBO está chegando ao fim... Novas idéias surgem, projetos, expectativas...

Assim surge o DUPLA de 2, nosso mais novo blog, com coisas e devaneios novos, idéias antigas também, afinal, continuamos juntos, senão ao vivo, na origem, na essência. Hoje somos dois, mesmo porque: duas cabeças pensam melhor do que uma e as duplas sempre funcionaram na história da humanidade. Quer exemplos? O Gordo e o Magro da TV, a dupla Preto e Branco básicos na hora de vestir, a preferência nacional Arroz com Feijão, o Batman e o Robin, Sartre e Simone de Beauvoir. Enfim, com ou sem os clichês ou genialidade dos citados anteriormente, mas na verdade sem grandes pretensões, queremos mesmo é nos comunicar com o mundo, com o hoje, com você aí do outro lado da tela... Aqui a regra é não ter regras... As portas estão abertas, os domínios e os sentimentos também!

Ah, entre, fique a vontade e não repare a bagunça.

(adoramos esse slogan... Hahahahahhahaha!)

Volte sempre, pra que assim formemos trios, quartetos, quintetos....